
Biografia de Lampião: vida, morte e curiosidades do rei do cangaço

Virgulino Ferreira da Silva (1897 – 1938), ou como é mais conhecido, Lampião, nasceu em 07 de julho de 1897, na cidade de Serra Talhada, Sertão pernambucano.
Odiado por uns e amado por outros, o rei do cangaço como também era chamado, era colocado como um herói pelos pobres e julgado como ladrão sanguinário, pelos ricos.
A história de Lampião é marcada por muito caos. Segundo estudiosos, problemas familiares e com os homens poderosos da época, criaram no menino Ferreira um desejo de justiça e, ao mesmo tempo, uma raiva incontrolável, que o levava a cometer diversos crimes.
Montou um grupo de cangaceiro de diversas idades, que teve um final trágico. Em 28 de julho de 1938, Virgulino e seu bando foram atacados e mortos no sítio Angicos, localizado na cidade de Poço Redondo, no estado de Sergipe.
A vida do rei do cangaço
De acordo com os dados da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Lampião apesar de ter nascido no dia 7 de julho de 1897, só foi registrado em 7 de agosto de 1900. Tendo como genitores, o José Ferreira da Silva e a Maria Selena da Purificação, foi o segundo dos oitos filhos do casal.
Mesmo sendo um garoto muito inteligente, Virgulino deixa a escola para trabalhar na roça e assim ajudar a família. Muito festeiro, dançava, tocava sanfona e ainda fazia muitos versos. Além disso, já era um bom atirador, pois sempre teve interesse nas estórias que ouvira sobre os cangaceiros, entre eles, Antônio Silvino.
Aos 19 anos entrou para o cangaço, mas para quem acredita que a história deste homem se resume a esse estilo de vida, está enganado. Pouco temo depois recebeu do Padre Cícero Romão Batista o título de capitão do Batalhão Patriótico do deputado Floro Bartholomeu.
A aliança se rompe, quando Lampião é enviado para combater a Coluna Prestes. Após partir em missão, Virgulino desvia o caminho e deixa de cumprir com suas obrigações de oficial. E com isso volta a exercer a função de líder do cangaço.
A raiva dos policiais e dos grandes proprietários de terra aumenta quando o pai, José Ferreira é assassinado. Esse fato revirou a cabeça não só de Lampião, mas também dos seus outros irmãos, como Antônio Ferreira que também aderiu ao cangaço.
Além deles, o bando era formado por homens de todos biotipos e idades. Um dos mais novos tinha 11 anos, enquanto o mais velho tinha 71.
O cangaço de Lampião
O grupo formado por Lampião possuía um armamento forte, algumas das armas e munições foram adquiridas no período em que o líder foi militar, outras foram conseguidas em segredo, que não era revelado nem para os próprios cangaceiros.
O bando não perdia a oportunidade de queimar as plantações e matar os animais de algum fazendeiro rico e perverso. Em povoados, os homens roubavam os comerciantes, destruíam casas, estupravam mulheres e matavam algumas pessoas.
Com essas características era impossível ficar em um só lugar por muito tempo, pois eles eram odiados por muita gente, que desejavam as suas mortes.
Em contrapartida, Virgulino distribuía a riqueza que saqueava com os mais necessitados. Promovia festas para a equipe com muita fartura de comida e pagava bebidas para as pessoas em bares. Por essas razões, também foi muito idolatrado por alguns.
Em suas andadas, o rei do cangaço conheceu Maria Déia, filha de um fazendeiro e mulher de um comerciante, mas que mantinha uma paixão quase platônica pelo líder do bando, apesar de nunca ter o visto. Ao se encontrarem, apaixonam-se e vão viver juntos em meio as fugas. Déia passa a ser chamada de Maria Bonita e vive toda a sua vida ao lado do grande amor, com quem teve uma filha, Expedita.
O bando de Lampião sobreviveu 20 anos, mesmo sendo perseguido por policiais e inimigos em sete estados do Nordeste. Com exceção de João, todos os outros irmãos do grande cangaceiro foram mortos antes dele.
Mesmo tendo sido alvo de vários tiros, Virgulino nunca utilizou os serviços médicos para se curar desses ferimentos. Porém, em um dos ataques ao bando, Maria bonita foi atingida e perdeu muito sangue. Por isso, o companheiro cancelou a batalha e procurou socorro na cidade para a amada, que sobreviveu.
A resistência de Mossoró: o dia em que Lampião foi enfrentado

Em 13 de junho de 1927, após ter exigido 400 contos de reis (cerca de 20 milhões de reais hoje em dia) e ter ouvido de autoridades de Mossoró, especialmente o prefeito Rodolfo Fernandes, que não iria receber, Lampião e seu bando tentaram invadir a capital do Oeste Potiguar, em busca de dinheiro e suprimentos.
Só que, dessa vez, o jogo virou: a cidade organizou uma resistência armada, liderada por comerciantes, vaqueiros, políticos e até padres.
Em toda a cidade, os moradores montaram trincheiras para o enfrentamento do bando, locais como a Estação Ferroviária da cidade, a prefeitura e, especialmente, o Campanário da Capela de São Vicente de Paula (foto acima) foram palco de intensas trocas de tiros.
Um fato curioso é que, por conta do formato arredondado da parte de trás da igreja, Lampião teria apelidado o templo de “Igreja da Bunda Redonda”.
Os mossoroenses cavaram trincheiras, armaram barricadas e esperaram o bando com bala na agulha. O confronto durou horas, e Lampião, pego de surpresa pela resistência popular, bateu em retirada sem conseguir saquear a cidade.

Essa derrota marcou a fama de Mossoró como a única cidade que enfrentou e expulsou o rei do cangaço. Neste ataque frustrado, Lampião perdeu um de seus homens, José Leite de Santana, o famoso “Jararaca”, que foi morto na cidade potiguar.
O fim do bando comandado por Lampião
Na madrugada do dia 28 de Julho de 1938, a volante de militares, liderada pelo tenente João Bezerra da Silva, atacou o grupo de Lampião, pegando todos desprevenidos, na fazenda Angicos, no sertão de Sergipe.
O rei do cangaço foi um dos primeiros a morrer, ao todo 11 cangaceiros, incluindo Maria Bonita, foram mortos de imediato. Os outros homens, mesmo feridos conseguiram fugir.
Entusiasmados com a vitórias, os policiais roubaram as joias e os dinheiros que o bando tinha, e mutilaram os mortos, tirando suas cabeças e expondo em diversas cidades como um “troféu”.

Esse foi o fim do grande rei do cangaço, que apesar do jeito violento de viver, ajudou muitas pessoas a passarem pela pobreza no Nordeste do Brasil. Lugar esse, onde a pobreza era muito atenuada pelos grandes detentores de terra. Lampião e seu bando morreram, mas seu instinto de sobrevivente é perpetuado no Sertão brasileiro, sendo lembrado até os dias de hoje.
Lampião quase virou assunto constitucional
Durante a elaboração da Constituição de 1934 foi discutido sobre incluir um artigo específico para combater o cangaço. A ideia era prever ações federais diretas contra os bandos armados, principalmente o de Lampião, que aterrorizava o sertão.
O texto previa “providências para o extermínio do banditismo social e político”, com foco nos cangaceiros. A proposta gerou polêmica e acabou sendo rejeitada, mas o fato mostra o tamanho do impacto que Lampião teve na política nacional, não era só medo no sertão, estava havendo debate em Brasília também.
Curiosidades sobre Lampião
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Óculos de grau: Lampião era míope e usava óculos, item raro no sertão. Mas ele não largava por nada, nem nos confrontos.
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Amigo ou inimigo?: Apesar de ser temido, Lampião também era protegido por muitos sertanejos, que viam nele um justiceiro contra coronéis opressores.
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Estilo: Seu visual chamava atenção: chapéu de couro decorado, roupas customizadas e armas enfeitadas com detalhes metálicos.
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Carta para Getúlio Vargas: Acredita que ele chegou a mandar carta ao presidente pedindo para ser incorporado ao Exército como “defensor do sertão”.
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Morte armada: Mesmo morto em 1938, em uma emboscada, Lampião e seu bando tiveram as cabeças cortadas e expostas em praça pública por anos como um “troféu”.
- Dois filhos: Lampião teve dois filhos reconhecidos, expedita Ferreira Nunes e João Ferreira da Silva.
Pedagogo, graduando em Direito, pesquisador das relações de gênero e raciais, e apaixonado por justiça social. Criador do portal Toda Disciplina, onde compartilha conhecimento e debates sobre educação, direitos humanos e cultura.
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